sábado, setembro 17, 2005

Dublê

Observo oculto, palco vazio de luz
Os atos estão na cortina fechada da memória
Ecos do silêncio reconstituem cenas mal ensaiadas
Alí, mudo, ouço-me na fala mal pronunciada
Improviso-me surpreendendo-me com efeito
Momento de risco, sou coragem fora do script
Palmas, palmas, palmas... é diáfana platéia mecanizando alegoria
Olho-me no camarim de minh´alma, sem maquiagem, sem rosto
Vejo-me sem glória vã
Não, não posso apresentar-me como sou,
se o que sou, me é desconhecido
Só o ator atua completo, persona garbo empolado,
alternando humildade com vilania
Sou Zarathustra, sou mendigo, sou figurante
Amo e odeio com intensidade de até convencer-me,
garanto assim respeito, refratário respeito admirado
Drama vibra assistência que nutre drama sanguínio
Catarse vingada, posteridade forjada
Ode aos loucos é aplaudida de pé pelos doutos alienados
Tudo é espetáculo, tudo é fama fatal e gratuita
Aclamado, hipnotizado, Fausto eternizado às multidões
Alçado ao mais alto papel, morro antes do ato final
Impassível assistência, remove o inoportuno
Reposto, teia recosturada, o espetáculo não pode parar
No melhor que me premiaram, sem o saberem,
meu dublê idolatraram

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