sábado, julho 29, 2006

Não sei


Como posso silenciar nas palavras
o significado que a palavra contém?
A cada palavra escrita, grita em ecos
o que silenciosamente morre
após viver o sentido que a habitou

A cada palavra dita
bendita seja na lavra que a expressou
Maldito ensejo no que tão cedo provocou

A cada vez que penso em Deus
vejo-me espelho e nele vejo-me a ver-me
E o que penso ser
sendo o que sou,
nada diz-me que suplante a palavra emudecida

Tristes são as moradias dos homens
Habitadas por luzes interrompidas
Presumidas falácias dos dias findos

Habito-me sem ter onde morar
Não alugo estrelas
Apenas o brilho faz-me albergar

É hora, sempre é hora
Como se o tempo fosse acabar
Nada me parece ser o que sempre é
E tudo é o que parece ser a única verdade
escondida por detrás dos tempos

Os vulgos constroem escombros
com ar edificante
Sombras de quimeras
Nada mais do que simples eras

A passar e repassar

domingo, julho 16, 2006

Sem palavras


Escreva-se
Faça-se em palavras
Ponha os pingos nos is
Acentue-se de forma grave e aguda
Passe por entre linhas
Hifenize-se se preciso for
Coloque-se entre aspas
Se abra entre parenteses

Se o espaço te oprime

Pule pra outra linha

Use os dois pontos a que tem direito
Comece um novo parágrafo
Diante do absoluto exclame
Diante do desconhecido interrogue

Não construa uma verdade com meias palavras
Isso serve somente para um bom entendedor
A cada vírgula respire fundo
Vá direto ao ponto
Seja afinal o ponto de partida

E se mesmo assim
Depois de tantas letras
Nada lhe fizer sentido
O ponto final se encarregará de fazê-lo
Mesmo que para isso
Lance mão da imagem do não sê-lo
Livre como um livro

quarta-feira, julho 05, 2006

Cálice

Como vinho
Assim é minh’alma tinta desprazeres
Suporto o lagar da vida
Pisoteio feridas a extrair néctar

Tonéis resguardam memórias envelhecidas
Tidas serventes à embriaguês
Sorvida como se fora vida bebida de uma só vez

Brindo só e com minha sombra enquanto é dia
Logo que a noite chegar
Junto, um convitea à lucidez
É deixado no balcão de meus sonhos

Caminhando nesta fresta faço festa com meu brindar
Agora que o desbotar me colore
Arreio minhas portas
Sou tarde
Sou último gole