domingo, novembro 13, 2005

Diaporama de um luto


Hoje alguém morreu
alguém que não conheço
agora neste instante
antes mesmo de escrever estas letras mortas
Não sei se foi feliz não sei se veio infeliz
Nem mesmo sei se ao partir levou a vida que o levou
Não deixou marcas apenas o que seus rastros lhe marcaram
Se espargido foi esse pó viaja ao vento misturado à solidão das brisas entardecidas
Levou lembranças?
Pra quê se lembranças são nuvens esparsas difusas ao sabor de correntes
decorrentes de nem ao menos sei o quê?
Afinal, mais um final
E somente mais um
Em meio a tantos meios de vida que até Deus duvida que tenha alguma vida a ser pedida
Sem ter como referência o que seja o mal
e deferência ao que seja o bem,
todas essas consciências sem anti-corpos
já não apresentam defesas em face desse ser que é o ser sem o saber-se ser
Agora a pouco um viveu (?)
Talvez em busca apressada do sono que lhe dê a chance de sonhar Sonhar que vive
Para não acordar os sentidos neste findo mundo sem sentido
Anestesiada razão alfandegada
Chega-se como almas imigrantes
ausentes memórias antepassadas
sem visto de permanência

E é tão curta essa ambivalência

Falto aos olhos é a visão do que se ouve silenciosamente
Tão silenciosa mente a ouvir distantes estalos de sensações
como gravetos partidos no alquebrado notívago coração de emoções
O vento a sentir em fechados olhos
Faz-me saber que diante estou do horizonte
Esse que ao amanhã tão imediato não o tem como futuro
Sofrer demasiado ou pouco sofrer
não isenta alma a tanta insensatez
que por sua vez em cálida tarde d´esperança
suspira último medo de não a eternidade reconhecer

Ainda agora

alguém nasceu