segunda-feira, novembro 13, 2006

(f)útil ?

Onde estavas com esses olhos adormecidos
Por tantas lascívias insatisfeitas?
Por quais caminhos dobrastes teus sonhos
Como quem dobra memórias na gaveta do inconsciente?
Acaso precisas de terreno maior do que alguns pés
para o sumidouro do teu corpo?

Das sombras sufocadas por patéticos clarões
Adormecemos sem noção do despertar
Secas folhas pisoteadas pelo tempo descalço
farfalham como se fora o mais alto brado,
um clamor rutilante de indefinível saudade
esmagada pelo repassar dos passos

Tudo isso é muito natural
São águas bravias a desdenhar o rumo dos homens
Idólatra de si próprio a fugir
do rugir das tormentas de seu interno oceano
Quão pequeno estou nessa gôndola que sou
Navego na certeza que cedo ou mais tarde
não mais flutuarei sobre o profundo que naveguei

quinta-feira, novembro 02, 2006

O mundo jaz no silêncio


O silêncio. Quem o quer? Um par em mudo diálogo? Como se a ausência do som das palavras ou do quase inaudível farfalhar do nada a roçar ouvidos esforçados, solidificasse a certeza do... silêncio.
Absoluta solidão? Não, não há silêncio na solidão. O homem só não é silencioso. Ao contrário, nele abunda e fervilha caldos de diálogos inflamados consigo próprio. Só há monólogos onde dois ou mais circundam-se a chacoalhar seus argumentos e interpretações – que Deus tenha piedade de quem os tem – numa acirrada e disfarçada disputa pelo efeito de maior contundência na exposição

Um ente não dialoga; ele “monologa” diante de outros vários e tantos atentos monologantes. Ele apenas dialoga consigo mesmo tentando convencer-se com a precisão de um raro entendimento. Mas vã é a tentativa. Sabendo disso, engana-se a si próprio com a mesma elegância com que interpreta o mesmo engano que para si aprovou, para dar a outrem que o ouve atentamente como se o estivesse entendendo. Um consentido acordo de cavalheiros ocos, a preencherem-se de inócuas tentativas significantes.

Mas, e o sentido? O sentido, contido ficou enquanto internalizado no vasto mundo do imanifesto. A partir da manifestação, deixa de fazer sentido; apenas consente-se para que as delongas não prolongue enfados como em uma sala de espera a espera de se fazer entender.

Diante desse quadro – o qual não decoraria nenhum interior – espatulado com vigorosas pressões na realidade, mostra-se o quanto é praticamente quase impossível a socialização igualitária. Por único motivo: a individualidade. O homus-individualis, nada divide. A sociedade não é composta de “dividuais”. É decomposta por individuais.
Nunca será possível a longeva sociedade humana igualitária mas sim a circunscrita e desigual “saciedade” humana.

No silêncio de nossas alcovas individuais planejamos um “mundo melhor”. No máximo “dias melhores” com prazo de validade é o que se consegue. Resta-nos o consolo da engenharia “sensitiva” a construir pontes de acesso ao distante próximo, como uma forma de substituição à individualidade demarcada em nosso DNA.

No ensurdecedor barulho dos monólogos, acenamos com a esperança de que em um dado momento possamos nos fazer entender assim como nos entendemos a nós mesmos antes que interrompidos pela morte, possamos soçobrar em um eco perdido.