sexta-feira, julho 29, 2011

Em meio à multidão
Não há olhos que me enxerguem
Não há nada que me dissolva em sede de vida
E a alma é água que evapora
Brincando de formas no céu da existência

Hoje sou eco
Amanhã, distância
Os dias passam como cenários
Como se da janela de um trem
Minhas esquecidas memórias
Acenassem para mim

segunda-feira, julho 18, 2011

Expectativa de vida

Não são os 75 ou 80 anos como média calculada de existência que me faz pensar nisso como o produto final de uma conta fria e realista da cota de tempo inevitável. Em nossa bula de nascimento já está datado o prazo de validade. Mas, expectativa de vida entra e sai pelas narinas; por um ouvido e sai pelo outro; não mastigamos a existência, a engolimos apressadamente. Apressada mente que não descansa um só instante mas sorve em grandes goles a própria razão de existir deixando pelo caminho rastros que se apagam assim que a pressão do peso consciente, caminha como se existisse um caminhar. Estamos sempre na expectativa de que a vida não desapareça, não faça visita de médico a ponto de nem para um cafezinho ficar.  Por quê? Agora, que a conversa estava boa, e já se vai? Ou é para ir mesmo e eu é que fico para trás; não sigo adiante, não mergulho no sumidouro do inexplicável.

É a minha ansiosa ou serena expectativa que afasta a vida para longe de mim; ou é a vida que faz vistas grossas como se eu não existisse? Passa por mim e me deixa falando sozinho, com meu gesto no vácuo estendendo-lhe a mão... E lá se vai, toda cheia de vida e eu aqui, com meus restos de consciência a ter-me como alguém na expectativa de que olhe para trás... uma olhadinha só e me dê um aceno, um “vem comigo”. E porque não vou?

Algo percebi: que a vida não olha direto nos olhos mas dá uma piscadela rápida e misteriosa como que aguardando, sem expectativas, que eu supere as minhas. Isso eu já fiz, há muito tempo. Só, que ainda não me dei conta.

terça-feira, julho 05, 2011

Não somos nós
Somos um nó
um só
Que não desata
o fio empoeirado 
Novelo da esperança 

Chuva no telhado
Contando o tempo 
Em gotas
Em gota
Gota
escorre vidraça consciência

E eu brincando lá fora
molhando-me de paz
me vejo daqui de dentro
Ah! Como sou incapaz

Não me assisto na primeira fila
Reinterpretando-me sem script
No canto de minha última fileira
levanto-me despercebido
na penumbra dos desejos
antes do fim, planejo
meu último ato:
uma saída

sexta-feira, julho 01, 2011

O fim...
Será como a gota d´água
a secar impassível ao calor do sol?
Ausência de memórias?
Ou todas elas avalanche a disputar
cada palmo da bruxuleante consciência?
Sou boneco de corda que sonha
sonhar encontrar o criador dos sonhos
Apertar-lhe a mão para sentir se
tudo não passa de um sonho
Ainda que meu coração — esse relógio de pulso
comigo a cada impulsiva batida dos segundos —
seja forte diante dos ecos de tão montanhosa nostalgia,
far-me-á um simplório vapor a deslizar suavemente na dissipação
Sem medo, sem alegria
Se ao fechar meus olhos
Eles se mantiverem abertos
Exaltarei as bodas do silêncio
Com elas sentir-me-ei um corpo oco de existência
Mas pleno de vida atrevid